O problema de tudo isso é que o roteiro é muito implícito. As coisas são apenas sugeridas, tirando a cena inicial, não há um "olha, aconteceu isso, isso e isso". E muita gente não entende. Saí do cinema com gente perguntando por quê as máquinas tinham parado. Oras! Klaatu disse, "vocês terão que pagar um preço". O preço foi esse, começar do zero, sem energia, nada. Para parar GORT ele teve que usar um tipo de "EMP (electromagnetic pulse)", aquela descarga de energia que paralisa tudo, como acontece em Matrix Revolutions, quando a nave neutraliza as sentinelas. Então, a Terra parou, no sentido que vamos ter que recomeçar, entre paus e pedras. Klaatu nos deu a chance, mas cobrou caro por isso, não foi uma mudança de idéia, "olha, então tá bom, vocês não são maus, vou embora e, por favor, mudem". Não! A vida será difícil depois de sua partida, e ele provavelmente continuará observando. Mas os expectadores comuns saem boiando e nem se tocam. E essa é a maior falha do filme, tudo é muito implícito. Deixam muito a bola na nossa mão e a maioria não sabe o que fazer com ela.

A cena com Prof. Barnhardt também... cena maravilhosa. Mas MUITO curta! John Gleese deu um show no curto período, por quê não deixar a cena correr? A equação que ambos fizeram, por quê não explicar que era a prova da possibilidade de viagem tempo-espaço que Barnhardt tentava completar há decadas e Klaatu resolveu em segundos? Por quê não mostrar Barnhardt perguntando a Klaatu algo mais sobre sua civilização? A interação entre eles ficou devendo e é aí que vejo outro ponto negativo: excesso de cenas com militares. As melhores cenas, o melhor do filme é a interação entre Klaatu, Helen, Jacob e prof. Barnhardt. Para quê aquelas cenas do exército atacando GORT? Do nada? OK, elas mostram como os militares são idiotas e acabam sempre tomando decisões erradas, mas então o filme deveria ter sido mais longo. Não achei o roteiro ruim per se, mas o filme merecia uma edição melhor e um tempo maior. Provavelmente o estúdio queria um filme enxuto, mas para isso sacrificou o potencial da história, o que é uma pena. Pena maior foi ter sacrificado o trabalho sensacional que o elenco fez.

Keanu está perfeito como Klaatu. Não, não é por que ele é um ator de poucas expressões e atitude superior, não. Mas ele consegue algo muito difícil, ele consegue "não interpretar". Seu alien não possui emoções, mas ele experimenta sensações. Ele sabe o que está acontecendo à sua volta, ele testa as pessoas, como na cena em que mata o policial e depois o ressucita. Ele está testando Helen e Jacob, ele sabe o que ele pode fazer e usa seus poderes para testar seu ponto de vista. Ele tem a visão matemática dos eventos e tudo é muito rápido na sua cabeça, e Keanu exprime isso de forma enigmática, discreta, lógica e comedida. Ele não cai na armadilha de "interpretar" uma criatura. Ele é essa criatura no filme. Simples, direto, no ponto. Perfeito (e como é bonito em cena, não há dúvidas. Lembro-me de um artigo da publicação americana Salon - não me lembro o jornalista agora - que disse que Keanu é um astro por que a câmera faz amor com ele, e ele deixa. Pura verdade).

Outro ponto alto é Jacob. Tá, o moleque é chato. Mas que moleque naquela idade não é? Jacob é apenas uma criança insegura, com medo de ficar sozinha, e que usa a agressividade para esconder todos os seus temores. Comportamento muito típico em pré-adolescentes diga-se de passagem e por isso tão real. Claro, ele é orfão, está sofrendo (o que não justifica sua falta de respeito), e nem é isso o que me faz simpatizar com ele, mas o fato de ele ser  o contraponto perfeito para a credulidade de Helen. Jacob mostra o lado do  ser humano cético e desconfiado, e qualquer um que diga que confiaria plenamente em um alien está mentindo.  A gente desconfia (mesmo que esse alien seja um tipão maravilhoso como o Klaatu... rsrs). Jacob é o virginiano da trama, aquele que pede para você explicar a piada,  aquele que vai lá e fala: "por quê vocês vão confiar em um alien que quer acabar com a gente?" E o Jaden Smith estava ótimo. Ele irrita, mas a função dele é essa. Ele é o "cético", ele não está torcendo para o Klaatu, a única coisa que ele sabe é que aquele homem é uma ameaça e até o momento na ponte ele não tem motivo para pensar diferente. A cena da ponte é ótima (e merecia ser mais desenvolvida... ai meus Deuses que vontade de matar o diretor...), por que é mais um teste de Klaatu. Ele sabe que o moleque está em choque com o que ele fez com os helicópteros, sabe que ele vai se colocar em risco. Ele sabe que ele vai tropeçar e cair, e ele deixa. Ele quer ver o que acontece. E isso prova mais uma vez que  quando estamos à beira do precipício, mudamos de atitude.

E agora, falando da parte técnica, gostei muitos dos efeitos, eles não são muito elaborados, resumem-se às esferas e GORT. E são perfeitos. Não é um filme que se ampara nos efeitos, apenas os usa para manter a história em andamento, o que é um ponto poisitivo. GORT é fantástico e MERECIA mais tempo em cena. Apareceu muito pouco. A trilha sonora é boa, bem discreta, não comprometeu. Aliás, nos quarenta minutos iniciais ela foi decisiva para o clima de suspense que se cria.

Em resumo: o filme é "bom". Deveria ser excelente e não o foi por um excessivo foco em cenas sem importância, curta duração da história, não focalização naquilo que realmente foi ótimo: os atores. Esses sim, mereciam uma direção e edição melhores que fizesse justiça às suas atuações impecáveis.

Pontos altos
1) Keanu como Klaatu é perfeito do princípio ao fim.
2) GORT saindo da nave
3) Diálogo de Klaatu com a Secretária de Estado.
4) Cena do detector de mentiras.
5) Klaatu comendo sanduíche de atum enquanto o cara morria na sua frente. rsrs
6) Cena em que Klaatu mata o policial para testar a reação de Helen e Jacob e Jacob temendo pelo policial.
7) Klaatu e Prof Barnhardt em uma disputa "equacionária" em que Keanu escreve com a mão "direita" (a gente sabe que  na verdade ele é canhoto).
6) Jacob no túmulo de seu pai, pedindo para Klaatu ressucitá-lo e ouvindo a explicação racional e lógica desse.
7) Efeitos simples e eficientes.

Pontos baixos
1) Faltou maior interação entre Klaatu e os humanos (o filme deveria ter focado apenas nisso)
2) Excesso de cenas com militares patetas.
3) Edição truncada
4) Direção formulaica (em apenas duas cenas houve algo surpreendente e inovador: na no detector de mentiras - e essa foi criada pelo próprio Keanu Reeves - e a do policial na mata. De resto, foi como seguir uma receita de bolo.
5) Jennifer Connelly. Eu adoro ela, penso que ela não comprometeu o filme, estava bem, mas ela também não se destacou. Seus olhos verdes são maravilhosos e sensíveis, mas a Helen precisava de algo mais.

Minha nota: 6/10. (Não é um dos meus favoritos do Keanu mas, como eu sou fã de carteira assinada, obviamente que vou comprar o DVD para rever o Klaatu e ficar dando um replay nas cenas que gostei.)